
Tem dias que a gente sente saudade de uma boa conversa. Daquelas que começam com um “me conta” e não com um “você viu?”. Tenho percebido, e talvez você também, que estamos nos tornando especialistas em manchetes, mas analfabetos de contexto. A profundidade das conversas está se perdendo como água escorrendo entre os dedos, e o que sobra é só o raso.
Essa sensação me bateu outro dia, enquanto assistia a alguns vídeos no YouTube. Os comentários eram quase todos sobre manchetes. Ninguém comentava o conteúdo de verdade. As discussões viraram disputas de frases prontas, e assuntos complexos, como política, economia, até tragédias, viraram entretenimento de três minutos. As pessoas não querem entender, querem opinar. E, se possível, rápido. Como se pensar demorasse demais.
A gente lê o título e acha que já entendeu tudo. E não é só nas redes, é no almoço de domingo, nos grupos de WhatsApp, no elevador. As conversas têm ficado cada vez mais apressadas, como se fossem interrompidas por um algoritmo invisível que nos empurra para o próximo vídeo, o próximo post, o próximo escândalo.
O problema não é a tecnologia, nem a rapidez com que a informação circula. É o que fazemos com isso. É como estamos nos relacionando com a informação e, sobretudo, com o outro. Quando a gente só escuta para responder e não para compreender, vira ruído. E quando todo mundo está gritando, ninguém se escuta de verdade.
Essa superficialidade também atinge outro lugar importante: o nosso trabalho. Como empreendedores, corremos o risco de reproduzir esse mesmo padrão dentro das nossas empresas. Nos acostumamos a olhar só os resultados rápidos, os números isolados, os indicadores da semana, mas esquecemos de entender o que está por trás. Quais mudanças sociais, políticas ou culturais estão nos atravessando? Que sinais o mercado está nos dando e estamos ignorando por falta de tempo ou de profundidade?
Lembrei do FOFA (Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças) aquela ferramenta estratégica que tantas vezes usamos em planejamentos, mas que corre o risco de virar só um quadro bonito na parede, se a gente não estiver verdadeiramente conectado com o que está acontecendo no mundo. Para identificar uma ameaça real, por exemplo, é preciso mais do que ler um título de notícia. É preciso escutar o entorno, conversar com pessoas fora da nossa bolha, observar padrões, cruzar dados, sair da própria rotina.
Quando a gente se afasta do cotidiano, das pequenas conversas, das experiências reais das pessoas, a gente começa a criar planos de marketing para públicos que nem existem mais. Tomamos decisões baseadas em tendências de superfície e perdemos o pulso da rua. Isso nos torna vulneráveis, desconectados e, muitas vezes, ineficazes.
A profundidade, nesse sentido, não é um luxo, é uma ferramenta de sobrevivência. Ela nos ajuda a tomar decisões mais conscientes, construir relações de confiança e adaptar nossas empresas ao mundo real, não ao mundo filtrado dos algoritmos.
Talvez seja hora de reaprender a perguntar “por quê?” e “como você se sente com isso?” em vez de “você viu o que fulano disse?”. Talvez seja hora de lembrar que nem tudo cabe em um “X” e que ouvir uma história até o fim é um ato de resistência.
Porque no fundo, a gente não quer só informação. A gente quer sentido. E o sentido mora na profundidade. Mora na escuta. Mora naquele lugar em que a conversa não termina num ponto final, mas se abre numa nova pergunta.
E talvez, a pergunta mais urgente hoje seja: como voltamos a escutar o mundo de verdade? Ou nunca escutamos de verdade?
Pensar com Arte é Pensar diferente.
Aimée é uma planejadora urbana com mais de 15 anos de experiência em Marketing, consultora de pós-graduação em NeuroMarketing, Artista Visual internacional e CEO da Tkart, uma empresa internacional de marketing.
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