Educar em um mundo digital!
Coluna Diálogos sobre Educação com Adriana Frony

Em um mundo onde a informação corre mais rápido que um trem-bala, parece mais quente que um vulcão e mais voraz que um dragão, falar sobre um tema fascinante e complexo como a educação na era digital é uma oportunidade excepcional. A tecnologia está transformando a forma como aprendemos e ensinamos, oferecendo oportunidades incríveis para melhorar a educação.
Há muitas tendências e desafios que “obrigam” os professores a se aperfeiçoarem a cada dia, a cada bimestre. A educação a distância, online, está se tornando cada vez mais popular, permitindo que os alunos aprendam em qualquer lugar e a qualquer hora. Os recursos educacionais hoje estão abertos — ou seja, todos temos acesso a conteúdos educativos —, o que torna o ensino cada vez mais acessível, permitindo que estudantes, pais e professores consultem materiais de alta qualidade, gratuitamente, tanto em casa quanto nas escolas. Não importa o local ou o ambiente: o conhecimento está a um clique dos dedos. A tecnologia tem permitido que a aprendizagem seja personalizada, de forma a atender às necessidades individuais dos estudantes.
Todavia, é preciso dar atenção ao desenvolvimento do pensamento crítico de nossos estudantes, à importância da resolução de problemas e à colaboração entre todos, aspectos que muitas vezes se tornam mais naturais no contato presencial. É um novo desafio que surge a cada passo no mundo digital. Todos esses obstáculos são possíveis de serem superados — salvo por impasses tecnológicos, nos quais uns nada têm e outros têm tudo.
Persistem, portanto, grandes desafios a serem solucionados, como o acesso desigual, onde nem todos têm acesso à tecnologia e à internet, o que tem criado abismos e desigualdades no processo de ensino-aprendizagem.
Durante a pandemia, ficou explícito que nem todos os estudantes conseguiram acessar o ensino a distância, devido à falta de recursos tecnológicos como computadores, notebooks e celulares com acesso à internet de qualidade. A baixa velocidade do sinal também impediu muitos de receber, pesquisar e enviar atividades online.
Há pouco tempo, nossos estudantes precisavam ir às bibliotecas para pesquisar assuntos mais complexos solicitados pelos professores. Atualmente, é possível fazer essas pesquisas de casa ou até no intervalo da escola, sobre qualquer assunto, mesmo em um simples dever de casa. Para facilitar ainda mais, há inteligências artificiais que formatam textos, geram imagens e apresentações em poucos instantes — e ainda deixam qualquer profissional boquiaberto diante da rapidez com que o resultado chega às palmas das mãos dos estudantes. É bem verdade que nos amedrontamos com tamanhas facilidades no processo de aprendizagem; contudo, não seria isso o acesso ao conhecimento — fácil, ágil e para todos?
A aquisição do conhecimento está diferente do nosso tempo, porém mais democrática. Um exemplo claro pode ser observado no sistema bancário: alguém em sã consciência desejaria retornar às filas de banco para abrir mão dos caixas eletrônicos, ou deixar de usar o Pix para retomar as antigas ordens de pagamento? É um exemplo evidente de que o uso da tecnologia não regride. A tecnologia veio para solucionar problemas do cotidiano e melhorar a vida de todos. Com a educação, não deveria ser diferente. As saudosas enciclopédias Barsa e Delta Larousse ficarão para sempre guardadas na memória — porém, empoeiradas em estantes antigas. Até porque os conteúdos exigiam atualizações constantes, o que encarecia ainda mais sua aquisição.
A tecnologia tem impactado profundamente a sociedade e a educação. Ensinar jovens nascidos no século XXI, que estão crescendo em um mundo digital, afeta intensamente sua forma de aprender. Cabe aos professores uma atualização permanente para acompanhar essa revolução nada silenciosa.
As necessidades dos jovens do século XXI não são as mesmas dos jovens do século XX. A atenção dos estudantes está cada vez menor. As opções de lazer e as atividades virtuais são bem maiores, assim como os questionamentos e os modos de existir e se comportar no mundo. Faz-se necessária uma mudança drástica na forma como as escolas se fazem existir. A educação baseada em projetos, a gamificação, o aprendizado colaborativo, o uso da realidade virtual — tudo isso precisa ser ofertado, discutido e normalizado como prática usual. Afinal, quem de nós, adultos, gostaria de passar quatro ou cinco horas assistindo a aulas expositivas, tradicionais, como estudamos há 10, 20 ou 30 anos? Aulas essas ministradas em ambientes nada convidativos, com cadeiras desconfortáveis e horários pré-determinados até para ir ao banheiro.
Atender aos anseios de estudantes nascidos no século XXI exige mais do que uma mudança metodológica na educação — exige uma mudança de existência, de comportamento.
Algumas escolas já estão na vanguarda desse tipo de metodologia, que atende à demanda e transforma os conceitos sobre o que é educação de qualidade para nossos filhos e estudantes. Todavia, a maioria ainda demanda atenção.
Os trabalhos em grupo, assim como as reuniões de estudantes, não acontecem mais nas casas uns dos outros. Os encontros entre colegas de classe ocorrem pelo Google Meet, Teams, Zoom (entre outros). As folhas de papel almaço há muito foram substituídas pelo Google Docs, onde os estudantes escrevem seus apontamentos simultaneamente e constroem juntos os trabalhos solicitados pelos professores.
O mundo mudou — e a mudança foi rápida. A forma de ensinar e de inovar em sala de aula deixou de ser uma novidade: tornou-se uma necessidade. O ensino híbrido já é realidade, oferecendo momentos presenciais e momentos a distância. Há flexibilidade e personalização na aprendizagem. O ensino torna-se mais acessível e inclusivo, respeitando o ritmo de cada estudante. A experiência educativa é centrada no estudante, e não mais apenas no conteúdo.
Estudantes neurodivergentes têm, por exemplo, a oportunidade de realizar avaliações em espaços mais apropriados e silenciosos. O tempo das provas pode ser ampliado. Para os que necessitam de apoio extra, há a função dos ledores — no caso de estudantes com DPAC, TDAH ou outros transtornos. Trata-se de uma adequação não apenas curricular, mas de todo o ambiente, que deve se ajustar para garantir a aquisição do conhecimento.
A educação está diante de uma nova etapa: ensinar implementando metodologias inovadoras, que se adequem às necessidades dos estudantes, independentemente da faixa etária. Da educação básica ao ensino superior, todos podem aprender de forma prazerosa, significativa, inclusiva e personalizada.
Aos professores, desejo coragem para inovar.
Aos pais, desejo confiança para compreender a mudança.
E aos estudantes, desejo sucesso em seu processo particular de aprendizagem.
Adriana Frony, professora, administradora, especialista em gestão escolar, mídias sociais, mestranda em ciências da educação, escoteira, palestrante e mentora com mais de 30 anos de experiência na educação, dedicou-se a transformar a aprendizagem em uma experiência alegre e significativa para seus alunos. Acredita que educar é um ato de coragem e amor, que deve ser vivido com liberdade e criatividade. Contato: espacodeaprendizagemintegrada@gmail.com