Crônicas

Crônicas por Thiago Maroca

FILAS

É isso mesmo! Filas! Despertam os sentimentos mais verdadeiros em qualquer brasileiro, mas não se engane, fila é coisa antiga, se não tivesse que ficar em pé, parado e esperando seria coisa chique, mas mesmo assim ninguém gosta. Até aquela fila “invisível” onde entregam uma senha e você fica disfarçado esperando, às vezes você se afasta da recepção e não escuta sutilmente seu número.

SENHA 72! SE-TEN-TA-E-DO-ISSSSS!

Só lembra que já foi chamado quando chamam a senha 74, vai pedir informação logo na vez de alguém que carece de atendimento preferencial, assim lhe aumenta a vergonha de estar ali e ainda se passa por uma pessoa mal-educada. Falando em preferencial, existe até lei para que essas pessoas sejam atendidas primeiro, tamanha é nosso tempo de espera nos lugares, na minha opinião, para alguns serviços básicos, nem fila poderia haver, mas eu ainda não sou o dono da bola.

Existe até teoria sobre filas, coisa de matemático, com aquelas palavras de probabilidade, porcentagem, taxa de amostragem e por aí vai. A minha teoria é a popular mesmo, se tiver cinco filas no mercado, opte pela média, nem a mais longa porque de fato vai demorar e muito menos a menor, essa última é uma pegadinha do dono do estabelecimento para ver quantas vezes você vai se contorcer, aguardando a única pessoa que estiver na sua frente começar a procurar o cartão ou contar as moedas para inteirar o valor de seu consumo, fora que o celular pode tocar com uma música estrondosa e a pessoa atender e só retomar o raciocínio após desligar a ligação. Não é fácil essa vida, até suei aqui. 

Existem também aquelas pessoas que criam filas, não importa onde esteja. Certo dia eu estava na rodoviária de Brasília, e no local onde formamos nossas filas para voltarmos para casa, tem mais ônibus do que espaço, as pessoas se amontoam, os povos se misturam, se fosse em uma festa, seria maravilhoso, mas é para descansar depois de um dia de trabalho nesse calor da peste. No empurra-empurra que se forma é que vamos vendo. Quem tinha que ir para o Lunabel, no Novo Gama acaba indo para o Girassol, Cocalzinho. Quem precisa chegar em Águas Lindas, desce na entrada do Mingone e quem precisa chegar na garagem da antiga Anapolina no Valparaíso, desce no lago Jacob da Ocidental. Fora quem pegou para Santo Antônio do Descoberto e ainda não descobriu se está no caminho certo. Pegar ônibus e fila às 18h na rodoviária do plano piloto é uma prova de fogo, o pior é que a gente acostuma. Agora estão usando um cartão chique que desconta a passagem, mesmo assim, tem gente que só procura quando encosta na roleta já dentro do ônibus.

A fila no hospital é a melhor, ninguém sabe quem é o próximo, tudo depende da garganta do médico que está no ambulatório, as enfermeiras, sim, essas possuem um vozeirão, sempre prontas para aplicar a medicação indicada pelo doutor, se a gente soubesse que toda vez que uma enfermeira grita nosso nome é para aplicar injeção, já teríamos desistido de adoecer, hospital é onde a fila não existe, mas na minha opinião funciona, porque sempre tem pouca gente perto de você, a cada grito surge o paciente de outro lugar e assim, vamos esperando, uma hora nossa vez chega. Haja garganta para os profissionais da saúde. 

Na minha opinião, só tem uma fila que não merece perdão. A dos bancos. Eu sei que no aplicativo a gente resolve quase tudo, mas se você precisar ir fisicamente naquele espaço, prepare-se porque a espera vai ser longa, na última vez que precisei ir, havia uma iniciativa de biblioteca, não sei o motivo, mas, acredito que isso até daria mais qualidade ao tempo de espera. De fato, deu, eu li um livro inteiro de poesias do Mario Quintana. Adorei! Ao concluir, já havia sido chamado três vezes, a atendente que lute gritando meu número. Após resolver o problema, levei o livro, tomei 4 copos de água e pedi um calendário. Fila, eu evito, mas se precisar, levo um livro e uma garrafa de água, as vezes um bloco de notas para escrever a vida acontecendo.

Escrito por Thiago Maroca (thiagomaroca@gmail.com/ thiagomaroca.com). Autor, cronista, bisbilhoteiro, curioso e uma meia dúzia de coisas que não cabem neste espaço.

Botão Voltar ao Topo