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Crônicas da Cidade com Thiago Maroca: Viajando

Viajar é uma das melhores terapias da vida. Sair da nossa rotina, conhecer pessoas e lugares novos, comer bastante e se arriscar em novos passatempos. Eu lembro que há quase trinta anos atrás só tínhamos a oportunidade de viajar para a casa de uma tia que morava no litoral. Era o evento mais esperado do ano, o presente por passar na escola. Fizemos esse itinerário por cinco anos e mesmo que fosse para o lugar de sempre todos os anos, nós passávamos o ano sonhando com aquele momento. Naquela época não tinha outro transporte que não fosse ir de ônibus. 21 horas na estrada, sem celular e sem internet, apenas olhando a paisagem natural na janela do ônibus. Passávamos o tempo lendo o nome das cidades nas placas e contando regressivamente os quilômetros que faltavam. Lembro com saudade dessa época.

Com a ascensão da classe “c”, nós, o povo, começamos a andar de avião. Pensa num trem chique. Uma fila sem gritaria, todo mundo arrumado, parecendo que estavam indo fazer exame de sangue. Cadeira numerada e o melhor tudo: tinha lanche. No começo era uma coisa generosa. Serviam suco, café e refrigerantes, com biscoito ou sanduíche, mas aí popularizou demais. A esposa de um comediante famoso disse que o aeroporto parecia uma rodoviária, pegou mal, a gente que começou na rodoviária não tinha opção e também nunca vimos um manual de como se comportar no aeroporto, o único manual que conhecemos é aquele que ensina se o avião cair, mas infelizmente ninguém fez um depoimento dizendo se as máscaras caem ou o assento vira uma boia. O tempo passou, as companhias aéreas viram que dava lucro levar o povo pelo céu e mudou as regras. O espaço entre as cadeiras diminuíram, só pode levar uma mala pequena e hoje só tem água. A gente leva as coisas igual fazia nas viagens de ônibus.

A única coisa que não mudou foram os preços praticados no comércio do aeroporto. O meu voo deu uma leve atrasada graças a chuva, pensei que eu merecia um café, fui em uma cafeteria, pedi um simples, pequeno, com açúcar, coado. O atendente fazia tanta pergunta que pensei que ele estava fazendo o CENSO comigo. Tomei o café, sentei, mexi no celular, ensaiei ler umas páginas, uma voz do além grita meu vôo para um embarque imediato. Pego umas moedas na mochila.

“Pode ficar com o troco”

“Senhor, está faltando. O café é dez reais”

Paguei calado, que absurdo. Na próxima vou precisar levar café na garrafa também. Fica a reflexão. O café na padaria do bairro é três reais, no aeroporto dez, às vezes você não está sendo valorizado porque está no lugar errado.

Beijo!

 

Thiago Maroca é escritor, membro da Academia Valparaisense de Letras, produtor audiovisual, fotógrafo, mestre em educação, escoteiro, pai do Théo e uma meia dúzia de coisas que não cabem nesse espaço.

Manda um OI:@thiagomaroca/thiagomaroca@gmail.com

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