Coluna Crônicas da Cidade

Como nossos pais

Crônicas da Cidade com Thiago Maroca

Todas as manhãs eu estou fazendo minha parte na criação do meu filho, isso inclui: acordá-lo, trocar de roupa, dar café, com biscoito, sem biscoito, com leitinho, com maçã, com banana. O menino come igual uma lixadeira. Se tem alguém que pode ajudar a economia do país são as mães que fazem compras para alimentar três crianças e dois adultos durante um mês. Se um dia o presidente da república ou algum governador quiser aprender a economizar, bastar levar uma mãe para dentro desses palácios aí. Mas aonde eu queria chegar é sobre a convivência com outros pais e mães que também estão na missão de criarem suas proles.
A tarefa de criar um ser humano zero de fábrica nos coloca no campo dos sonhadores, sempre alimentando aquilo que víamos e não aceitávamos, do tipo: “Meu filho nunca vai tomar coca cola”, “minha filha vai ser criada sem frescura” e até “Eu vou fazer tudo diferente do que meus pais fizeram”. Meu caro leitor ou leitora, vivendo na prática tenho que lhe confessar que a realidade é mais dura do que parece e se você não tiver uma certa estratégia de vida com seu filho, poderá estar fazendo tudo que seus pais faziam, sejam por bem ou por mal. As boas lições devem ser levadas conosco mesmo, mas as ruins é preciso refletir para não repetirmos. Um exemplo é bater, eu não bato no meu filho como minha mãe me batia, mas eu ameaço deixando claro que posso cruzar a linha se ele teimar. E o pior, é que ele me testa, ou seja, a chinela já cantou na poupança, mais pelo susto do que pela dor. Vai por mim, toda criança carrega um pouco de tirania em seu ego, devemos mostrar que as revoluções democráticas existem e mantém acesa a chama de dias melhores, sempre.
Um dia meu filho no parquinho, pegou um brinquedo do coleguinha, juntou com os dele e disse que queria brincar sozinho. Eu, utilizando a educação que recebi da Rainha Elizabeth através da minha mãe, uma baiana arretada, fiz o primeiro contato visual e pedi delicadamente para dividir a brincadeira, uma vez que ali tinha brinquedos do coleguinha. Ele disse “não”, eu peguei e devolvi ao dono. A mãe da criança, interviu:
“Tudo bem! São crianças, pode brincar”
Neste momento, baixou o espírito da minha mãe alinhado ao de meu pai que sempre chegava de noite do serviço com um cigarro na mão e a pasta de couro na outra.
“Nada disso. Daqui a pouco ele está entrando na casa dos outros, roubando coisas para vender e usar droga. Depois vai começar a cometer pequenos roubos no comércio até ser preso a primeira vez e ficar fichado. Quando tiver a primeira liberdade provisória vai aparecer la em casa e dizer que engravidou uma menina e que suspeita que o filho não seja dele, mas, na verdade, ele é um covarde que não tem capacidade de assumir uma criança, só é homem quando está junto daquele monte rapaz sem futuro igual a ele. Por fim, vai ficar carregando essa tornozeleira eletrônica lá em casa toda noite antes de sumir no mundo e eu perdendo o meu sono dando mamadeira para minha neta”
A vizinha me volta para a realidade
“Vizinho, eles só tem três aninhos”
Por fim, o espirito de minha mãe finaliza
“O mundo de hoje não está fácil para criar os nossos filhos”
Pego minha prole no colo, devolvo o brinquedo e saio andando rápido rumo a nossa casa, pensando que ainda tenho que dar banho e almoço para fazer.
Fui!
Beijo

Thiago Maroca é escritor, membro da Academia Valparaisense de Letras, produtor audiovisual, mestre em educação, escoteiro, pai do Théo e uma meia dúzia de coisas que não cabem nesse espaço.
Manda um OI:@thiagomaroca/thiagomaroca@gmail.com

Paula Rocha

Editora chefe do Jornal Diário do Entorno

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