Coluna Empreender com Aimeé Resende – Gatilho da dor saudosista: A sopa de feijão da minha mãe

Escutei muito esses dias meus clientes informando sobre gatilhos mentais, de situações do cotidiano que os faziam se tirar do sério. Depois disso, comecei a observar quais gatilhos do cotidiano despertavam meus sentimentos e foi aí que observava muito mais as palavras que as pessoas diziam e me policiava se pressentia algum comportamento ou sentimento que poderia fluir a partir disso.
Foi aí que era noite, estava exausta, ainda no escritório, buscar meu filho na minha mãe e enquanto fechava tudo, pensava só em escutar música, escutar a história do dia do meu filho e olhar para o nada.
Foi então que meu filho, ao chegar com sacolas nas mãos, perto do carro, disse: Mãe, tem sopa de feijão para você.
E aí o gatilho da sopa de feijão durou muito, mas muito tempo. Assim que chegamos em casa e peguei o pote da sopa de feijão, eu só pensava no “nada”- o ato de pensar que no mundo só existia eu e a sopa, como o nome do álbum de Lulu Santos: Eu e Memê, Memê e eu.
E o que me levava a tudo isso era um pedaço da infância, onde eu, da mesma idade que o meu filho tem hoje, sentada na cadeira junto com meu irmão, tomando sopa de feijão, enquanto minha mãe assistia Jornal Nacional. Ela nos dava bronca o tempo todo porque queria ouvir enquanto meu irmão e eu ríamos e dávamos gargalhadas propositais (quem nunca?).
Meu filho foi dormir falando de deveres do colégio enquanto segurava a calopsita, e eu comia a sopa como se fosse a última comida da face da Terra, escutando ele vagarosamente e analisando todo o seu contexto de acordar em tal hora para não atrasar, queria a carteira da sala específica, não queria perder isso.
O silêncio volta, eu, a sopa, os gatilhos… (pensava eu concomitantemente), o quanto as pequenas coisas podem representar o amor em poucas palavras.
Mas o amor não é sentimento, já dizia a minha avó, então partindo para uma ideia de sentimentos, foi um momento em que não só pensei na saudade, mas que mesmo que em momentos mais difíceis e tensos que você passe, você não está sozinho, e o quanto essa sopa de feijão me deu energia para enfrentar os outros dias, pelo cuidado, carinho e lembrança da minha mãe.
Estar revigorada como ter tomado a poção mágica de Obèlix ou como se tivesse tomado espinafre do Popeye, ando com a confiança, a forma de ter despertado a guria de 12 anos que tomava sopa de feijão a continuar rindo, e mesmo que, ao ler esse artigo, minha mãe diga: “oxe, mas por causa de uma sopa de feijão?”, pois é mãe, o gatilho mais importante que me fez continuar a acreditar nos meus sonhos.
E se há um conselho que eu posso deixar, é este: permita-se enxergar a magia no cotidiano. Um passarinho, uma borboleta, um semáforo parado… Cada detalhe pode ser um lembrete de que você não está sozinho e que ainda há tanto para sonhar e conquistar.
Então, se hoje você tropeçar em uma memória ou encontrar um novo gatilho, lembre-se: às vezes, ele é só a força que você precisava para recomeçar. E isso, assim como uma sopa de feijão, pode mudar tudo.
Aimée é uma planejadora urbana com mais de 15 anos de experiência em Marketing, consultora de pós-graduação em NeuroMarketing, Artista Visual internacional e CEO da Tkart, uma empresa internacional de marketing.