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Otimizar nossas vidas: a troco de quê?

Ao olhar para 2025, relembro a frase de Sartre: “O inferno são os outros.” Não no sentido literal, mas porque nossa existência depende do outro. Ser julgado, contemplado, amado ou odiado só é possível através dessa troca. E então surge a dúvida: como viveremos sem esse espelhamento quando tudo for entregue à automação?

Será este o legado de uma humanidade que se distancia do convívio humano, da comunicação e da interação? Estamos criando ferramentas que prometem liberdade, mas podem nos levar à alienação.

Otimizar processos e unificar plataformas parece o novo mantra da era digital, uma bandeira semelhante à da Revolução Francesa, que alardeava liberdade, igualdade e fraternidade. Há poucos anos, conceitos como Web 3.0, 4.0 e 5.0 eram meros projetos futuristas; hoje, começam a sair do papel e transformar nossa realidade. Mas o novo sempre assusta — especialmente pelo impacto que pode trazer.

Podemos analisar essa mudança sob dois ângulos.

Primeiro, o lado otimista: a automação pode nos devolver o tempo perdido, possibilitando qualidade de vida ao simplificar tarefas e aliviar nossas mentes sobrecarregadas. Nesse cenário, seríamos beneficiados por uma tecnologia que trabalha para nós, enquanto reconquistamos momentos de tranquilidade e introspecção.

Por outro lado, o alerta: otimizar processos nem sempre significa paz. Muitas vezes, significa criar espaço para mais demandas. Imaginamos que podemos fazer tudo dentro das mesmas 24 horas e, assim, perpetuamos o ciclo de cansaço, ansiedade e ausência de significado. No lugar de libertação, a automação pode gerar uma nova forma de escravidão digital.

E isso se intensifica quando analisamos a crescente centralização dos dados em plataformas automatizadas. Descobri recentemente uma ferramenta internacional que unifica sistemas, substituindo a interação humana por códigos e bancos de dados. É assustador perceber que, nesses ambientes, as decisões não passam por pessoas, mas por algoritmos — e isso levanta a pergunta: qual o custo disso para a humanidade?

A verdade é que, mesmo antes da automação, já enfrentávamos dificuldades de comunicação. Às vezes, evitamos interagir porque presumimos que os outros pensam como nós. Mas agora, no lugar de dialogarmos, delegamos isso à automação, permitindo que sistemas centralizem nossas vontades e direcionam nossas ações com base em dados. O que acontece com o humano quando ele sai dessa equação?

Talvez estejamos nos aproximando de um cenário no qual cada um vive isolado em seu “quadrado automatizado”, anulando a necessidade de interação com o próximo. O que parece eficiente hoje pode nos afastar do que há de mais essencial: a convivência humana.

Por fim, a questão que fica: a automação é um atalho para a liberdade ou um caminho para o distanciamento humano? A resposta depende de como escolhemos usar as ferramentas disponíveis — e de nossa capacidade de lembrar que, por trás das telas e algoritmos, o humano deve permanecer no centro de tudo.

 

 

 

Paula Rocha

Editora chefe do Jornal Diário do Entorno

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