Coluna Diálogos sobre Educação

Aprendizagem humanizada: A transformação na educação

Coluna Diálogos sobre Educação com Adriana Frony

O início de um novo ano letivo sempre traz consigo expectativas e desafios. As turmas são formadas, e, muitas vezes, a escolha dos alunos é feita com base em diagnósticos prévios, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Nesse contexto, as turmas mais “tranquilas” acabam sendo as mais desejadas, enquanto aquelas que reúnem estudantes com desafios são deixadas por último. Contudo, essa forma de pensar pode limitar o potencial de cada aluno, além de criar um ambiente que não favorece a inclusão.

Minha abordagem sempre foi diferente. Em vez de buscar informações detalhadas sobre os alunos, preferi manter uma postura aberta e neutra. Acredito que, quanto menos eu soubesse sobre suas histórias acadêmicas passadas, melhor eu poderia me relacionar com eles, sem preconceitos ou rótulos. Meu objetivo sempre foi criar um ambiente acolhedor, onde cada estudante pudesse se sentir à vontade para se expressar e aprender.

Em sala de aula, busquei implementar práticas que tornassem a aprendizagem mais humanizada. A música foi uma das ferramentas que utilizei, criando um espaço onde os alunos pudessem relaxar e se conectar com o conteúdo de maneira mais leve. Além disso, momentos de leitura livre e um projeto de meditação infantil se tornaram parte da rotina. Curiosamente, os próprios alunos passaram a reclamar da ausência da meditação, demonstrando como esses momentos de pausa eram importantes para o seu bem-estar.

Promovi debates sobre temas atuais, acreditando que a educação não deve se limitar ao que está nos livros didáticos. A humanização da educação é um conceito defendido por grandes pensadores como Aristóteles e Paulo Freire, que ressaltam a importância de considerar o ser humano em sua totalidade. Henri Wallon e outros teóricos também enfatizam a individualidade de cada estudante, destacando a necessidade de reconhecer suas especificidades.

Certa vez, recebi em minha sala um aluno que enfrentava dificuldades de alfabetização. As professoras anteriores já o tinham considerado como um possível candidato à reprovação, criando um clima de desânimo desde os primeiros dias de aula. Para mim, essa situação era alarmante. Como é possível que um estudante já estivesse fadado ao fracasso antes mesmo de começar a aprender? Decidi, então, tratá-lo como qualquer outro aluno, acreditando no seu potencial.

Esse aluno, assim como todos os meus estudantes, merecia uma chance. Acredito firmemente que, ao reconhecer e valorizar o que cada um gosta de aprender, é possível criar um ambiente propício para o desenvolvimento. Cada estudante tem suas próprias paixões e interesses, e utilizá-los como ponto de partida para a introdução de novos conteúdos é uma estratégia eficaz para engajá-los.

Quando os alunos se sentem acolhidos em um espaço seguro, eles se tornam protagonistas do seu aprendizado. Essa abordagem não apenas aumenta o rendimento, mas também melhora os resultados. Sempre acreditei que minha turma era a melhor, e o sucesso de meus alunos ao longo dos anos me trouxe grande satisfação. Hoje, vejo advogados, professores, gestores e empreendedores que passaram pela minha sala de aula, e isso me enche de orgulho.

Um exemplo emblemático é o João, um aluno que, no início do ano, estava quase sendo reprovado. Recentemente, soube que ele obteve 970 na redação do ENEM. Essa conquista é um testemunho de que acreditar no potencial dos alunos e oferecer um ambiente humanizado pode fazer toda a diferença.

Em suma, a educação humanizada é fundamental para transformar a vida dos estudantes. Ao focarmos em suas potencialidades e criarmos um ambiente acolhedor, podemos não apenas melhorar o aprendizado, mas também formar cidadãos mais conscientes e preparados para enfrentar os desafios do mundo. Afinal, a educação deve ser uma ponte para o futuro, e cada aluno merece a chance de brilhar.

Obs: O nome João é fictício e o fato é realidade.

Adriana Frony, professora, administradora, especialista em gestão escolar, mídias sociais, mestranda em ciências da educação, escoteira, palestrante e mentora com mais de 30 anos de experiência na educação, dedicou-se a transformar a aprendizagem em uma experiência alegre e significativa para seus alunos. Acredita que educar é um ato de coragem e amor, que deve ser vivido com liberdade e criatividade. Contato: espacodeaprendizagemintegrada@gmail.com

Paula Rocha

Editora chefe do Jornal Diário do Entorno

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