Coluna Empreender

A fúria do carro de trás

Coluna Empreender com Aimeé Resende

Acho que toda cidade está passando por isso. Não tem frase feita, não tem otimismo que acalme quem está atrasado, ansioso e com raiva no meio do trânsito. Nesses momentos de caos, é difícil conter o que se passa na cabeça de alguém em pleno engarrafamento.

Acredito que um empresário completo é aquele que precisa ser resiliente até no trânsito. Avaliar sua própria conduta, meditar sobre a conduta do outro, parar para o pedestre atravessar, dar o sinal correto, não esquecer de indicar que vai entrar em uma rua… Pode parecer simples, mas essa ideia me consumiu no último mês: até o trânsito da cidade pode ser um exercício de autoconhecimento e autocontrole para quem é autônomo, empreendedor e empresário.

Foi aí que comecei a observar. Quando paro o carro nos semáforos de forma correta – chegando no amarelo, esperando o vermelho – , não faço isso para irritar ninguém. Mas fiquei pensando: até onde o certo vira errado? Ou o errado, de tão repetido, se torna o “novo certo”?

Parar no amarelo e ver, pelo retrovisor, um motorista se contorcendo de raiva porque eu não abri passagem como ele queria… É algo que nos faz pensar como sociedade. Por que o corpo dele expressa tanto ódio? O que está por trás daquele gesto?

Três motoristas me marcaram com suas expressões corporais.

O primeiro era um homem de meia-idade, com uma mulher ao lado, no meio da tarde. Ao me ver parar no semáforo – um cruzamento impossível de atravessar no amarelo – , ele deu um tapinha no volante, disse um palavrão e jogou a cabeça para trás. Atrasado para algo? Talvez. Agoniado? Provável.

O segundo era um homem só, bem vestido, numa manhã congestionada. Quando parei por conta de pedestres, ele balançou a cabeça, colocou a mão na testa, e ficou ali com aquela expressão de “inacreditável”. Mas será que esse “inacreditável” não era sobre ele mesmo?

A terceira cena foi a mais marcante. Uma mulher, ao ver que eu parei para não ser engolida pelos carros do cruzamento, simplesmente travou. Usou as duas mãos como se estivesse amassando um papel — mas não era um gesto qualquer. Eram mãos de monstro, carregadas de ódio, como se quisessem arranhar até a alma. Depois segurou o volante com força e fez uma cara de frustração profunda.

Eu olhei pelo retrovisor e sorri. Ela provavelmente não viu, mas naquele gesto ela nos representou a todos.

Essas expressões, no semáforo, em casa, no trabalho e na vida, nos tiram do eixo quando perdemos o controle da situação. E é exatamente aí que mora o exercício: depender do outro para seguir ou não. Respeitar o tempo, os contratempos, o espaço do outro.

Atitudes simples podem revelar muito sobre como lidamos com o mundo e nos preparar para lidar melhor com nosso time, nossa rotina e nossos próprios conflitos. Porque tudo reverbera.

A raiva, o ódio e a ansiedade somatizam. Assim como a calma, o foco e a empatia. Por isso, vale a pena se observar. Suas atitudes constroem o seu melhor.

Reconhecer a origem dos sentimentos negativos já é um grande avanço. Então, se pergunte: você é quem para corretamente no semáforo ou o motorista do carro de trás?

Porque pensar com Arte é pensar diferente.

Aimée é uma planejadora urbana com mais de 15 anos de experiência em Marketing, consultora de pós-graduação em NeuroMarketing, Artista Visual internacional e CEO da Tkart, uma empresa internacional de marketing.
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@tkart_idea

Paula Rocha

Editora chefe do Jornal Diário do Entorno

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