
Acho que toda cidade está passando por isso. Não tem frase feita, não tem otimismo que acalme quem está atrasado, ansioso e com raiva no meio do trânsito. Nesses momentos de caos, é difícil conter o que se passa na cabeça de alguém em pleno engarrafamento.
Acredito que um empresário completo é aquele que precisa ser resiliente até no trânsito. Avaliar sua própria conduta, meditar sobre a conduta do outro, parar para o pedestre atravessar, dar o sinal correto, não esquecer de indicar que vai entrar em uma rua… Pode parecer simples, mas essa ideia me consumiu no último mês: até o trânsito da cidade pode ser um exercício de autoconhecimento e autocontrole para quem é autônomo, empreendedor e empresário.
Foi aí que comecei a observar. Quando paro o carro nos semáforos de forma correta – chegando no amarelo, esperando o vermelho – , não faço isso para irritar ninguém. Mas fiquei pensando: até onde o certo vira errado? Ou o errado, de tão repetido, se torna o “novo certo”?
Parar no amarelo e ver, pelo retrovisor, um motorista se contorcendo de raiva porque eu não abri passagem como ele queria… É algo que nos faz pensar como sociedade. Por que o corpo dele expressa tanto ódio? O que está por trás daquele gesto?
Três motoristas me marcaram com suas expressões corporais.
O primeiro era um homem de meia-idade, com uma mulher ao lado, no meio da tarde. Ao me ver parar no semáforo – um cruzamento impossível de atravessar no amarelo – , ele deu um tapinha no volante, disse um palavrão e jogou a cabeça para trás. Atrasado para algo? Talvez. Agoniado? Provável.
O segundo era um homem só, bem vestido, numa manhã congestionada. Quando parei por conta de pedestres, ele balançou a cabeça, colocou a mão na testa, e ficou ali com aquela expressão de “inacreditável”. Mas será que esse “inacreditável” não era sobre ele mesmo?
A terceira cena foi a mais marcante. Uma mulher, ao ver que eu parei para não ser engolida pelos carros do cruzamento, simplesmente travou. Usou as duas mãos como se estivesse amassando um papel — mas não era um gesto qualquer. Eram mãos de monstro, carregadas de ódio, como se quisessem arranhar até a alma. Depois segurou o volante com força e fez uma cara de frustração profunda.
Eu olhei pelo retrovisor e sorri. Ela provavelmente não viu, mas naquele gesto ela nos representou a todos.
Essas expressões, no semáforo, em casa, no trabalho e na vida, nos tiram do eixo quando perdemos o controle da situação. E é exatamente aí que mora o exercício: depender do outro para seguir ou não. Respeitar o tempo, os contratempos, o espaço do outro.
Atitudes simples podem revelar muito sobre como lidamos com o mundo e nos preparar para lidar melhor com nosso time, nossa rotina e nossos próprios conflitos. Porque tudo reverbera.
A raiva, o ódio e a ansiedade somatizam. Assim como a calma, o foco e a empatia. Por isso, vale a pena se observar. Suas atitudes constroem o seu melhor.
Reconhecer a origem dos sentimentos negativos já é um grande avanço. Então, se pergunte: você é quem para corretamente no semáforo ou o motorista do carro de trás?
Porque pensar com Arte é pensar diferente.
Aimée é uma planejadora urbana com mais de 15 anos de experiência em Marketing, consultora de pós-graduação em NeuroMarketing, Artista Visual internacional e CEO da Tkart, uma empresa internacional de marketing.
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