
Recebi uma ligação do prefixo 21, dizendo ser a Lady Gaga, que estava no mercadão de Madureira precisando de R$ 300 no pix para pagar uma corrida de Uber, mas que, na verdade, o motorista se revelou ser membro da facção gospel “Complexo de Israel” onde o líder Peixão, mandou expressamente cobrar essa grana. Perguntei em português se ela estava bem e ela respondeu “Yesss” com aquele sotaque carioca de quem compra cerveja latão e come biscoito globo na praia de Ipanema aos domingos.
A violência nos deixa mais precavidos contra assaltos, roubos, furtos e até sequestros, mas a malandragem será eterna e não ha nada que possamos fazer. Terminei a ligação dizendo que ela escolheu a data errada porque eu só recebo no quinto dia útil, sou assalariado. Meu pagamento só passa pela minha conta, é tudo dos bancos, dos empréstimos, da escolinha de futebol, do sacolão, do livro superfaturado que nem meu filho e nem eu lemos, mas pagamos mil reais este mês(eu amo a educação privada deste país). O que me resta, eu uso para pagar passagem já que não tem integração e por aqui a gente compra vale na informalidade para economizar alguns centavos e trocar em balas durante o longo percurso de volta para casa. O que sobra eu vou passando no crédito sem olhar a fatura, Deus me guia.
Sabe Lady Gaga, eu não sei inglês, mas gosto da melodia, do batidão. As suas músicas devem falar de calor porque eu vi um monte de gente se abanando de leque, inclusive os homens, sinal de que estamos vencendo a barreira do que sexismo. Aliás, você é bem sedutora nesses seus um metro e meio. A performance no palco é coisa digna de um espetáculo shakespeariano com pitadas de Brecht. A bicha arrasa, não arrastou dois milhões de pessoas no sábado a noite para praia à toa. Um escândalo de mulher. Conheci umas duas meninas assim na época da escola, uma virou influencer, a outra não sei por onde anda.
De tudo que andei vendo no jornal, nada se comparou a grandeza do show. Com todo respeito ao Papa Francisco, que foi um camarada do bem, plantador de boas sementes nessa terra infértil de homens podres, mas Lady Gaga deu pane no meu Instagram, acho que fui um dos poucos que não foi no Rio de Janeiro, inclusive vou considerar ir em um próximo, mas não espere eu ficar cinco dias na grade dormindo naquela areia de praia. O ambiente festivo já me agrada. Pensando bem, eu não tenho nenhum artista internacional que me fizesse sair de casa ou gastar um salário mínimo para Assistir. Você tem? Até o Trump deu uma murchada, o que é normal com aquela cara de limão passado que ele tem.
Por fim, quero fazer um manifesto, vamos trazer um artista internacional para o entorno do DF. Já pensou, as prefeituras resolvendo problemas históricos como transporte, hospitais e serviços públicos básicos. Espetáculo gratuito para a população e a economia dos ambulantes indo à loucura. Sonhar não custa.
Passa aqui por aqui na próxima, querida.
Beijo
Thiago Maroca é escritor, membro da Academia Valparaisense de Letras, produtor audiovisual, mestre em educação, escoteiro, pai do Théo e uma meia dúzia de coisas que não cabem nesse espaço.
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