Mãe, conta uma história?
Coluna Diálogos sobre Educação com Adriana Frony

Mãe, conta uma história? Como sinto saudade de ouvir a fala infantil do meu filho antes de pegar no sono. Era um momento único, onde histórias lidas, histórias contadas, assim como os contos clássicos, se perpetuavam e ficavam gravados na memória dele.
Recentemente, comemoramos o Dia Nacional do Livro Infantil. Essa data foi criada graças ao nascimento do escritor brasileiro Monteiro Lobato. Ele encantou crianças por todo o país, deixou seu legado literário e sua memória para ser celebrada anualmente. Quem, como eu, pode assistir à série brasileira O Sítio do Pica-pau Amarelo, sabe do que estou falando. Vivenciamos, pela televisão, as aventuras do Pedrinho, as peripécias da boneca Emília e toda a sapiência do Visconde de Sabugosa — sim, um boneco de milho superinteligente, que vivia na biblioteca.
As histórias, assim como os causos, desde os primórdios da humanidade, encantaram povos de todas as idades, idosos e crianças. Passadas de geração em geração, as rodas de conversa e os saraus eram momentos de lazer muito apreciados. Os saraus foram popularizados no Brasil logo após a chegada de D. João, seguindo os moldes dos salões franceses do século XIX.
Quem conta um conto aumenta um ponto. Antes da chegada da imprensa, os contos eram transmitidos oralmente de pai para filho, e muitas coisas se modificavam ao longo do tempo. Os contos clássicos, como Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida, Rapunzel — histórias como essas — foram se transformando ao longo da história. Contudo, a magia e a beleza dos contos de fada permanecem intactas, mesmo que em versões diferentes da original.
Escrever sobre literatura infantil é maravilhoso. Dá uma vontade de comentar sobre histórias de assombração, daquelas que causam arrepios; de sorrir ao lembrar das piadinhas, das histórias de encantamento, das cartas enigmáticas, das histórias sem texto, das lendas, das histórias contemporâneas e das minhas fábulas favoritas. Sim, elas, as fábulas. Histórias curtas, protagonizadas por animais, normalmente por uma dupla, como: A lebre e a tartaruga, a raposa e as uvas, e o rato do campo e o rato da cidade.
Quando meu filho cresceu um pouco mais, lá pelos seus 8, 9 anos, eu contava histórias para ele sempre que surgia uma oportunidade, independentemente de estar perto da hora dele dormir. Certa vez, comecei a contar a história de um cachorro. O livro era Marley & Eu, que narra a história de um colunista que atingiu a fama ao contar, em suas matérias, as estripulias do seu cão da raça labrador. Pois bem, estávamos lendo juntos esse livro — que depois virou filme. No metrô, indo ao encontro do seu pai, Matheus ouvia as histórias do Marley, que eu ia contando em voz alta, com toda a animação do mundo. A distância que percorríamos era relativamente curta, e, ao chegar na nossa estação, para nossa surpresa, vimos os rostos pasmos dos passageiros, que não sabiam como seria o desfecho da história. Tá aí: poderia criar um projeto de contação de histórias em viagens de metrô!
Brincadeiras à parte, o importante é contar histórias sempre que houver oportunidade. Conte histórias! O vocabulário das nossas crianças se amplia, assim como o repertório linguístico. A criança vivencia, por meio das histórias, experiências de sucesso e frustração, alegrias e tristezas, viagens, além de se preparar para o mundo real.
Hoje em dia, quem escuta histórias antes de dormir é o Davi. Ele tem 5 anos e é o filho do Matheus. Juntos, eles contam e escutam muitas histórias. De pai para filho, passa o hábito da leitura. Viva o livro infantil! Viva a literatura!
Adriana Frony, professora, administradora, especialista em gestão escolar, mídias sociais, mestranda em ciências da educação, escoteira, palestrante e mentora com mais de 30 anos de experiência na educação, dedicou-se a transformar a aprendizagem em uma experiência alegre e significativa para seus alunos. Acredita que educar é um ato de coragem e amor, que deve ser vivido com liberdade e criatividade. Contato: espacodeaprendizagemintegrada@gmail.com